Pesquisa aponta que nova geração pode ser a primeira a viver menos que
seus pais, devido ao estilo de vida sedentário.
Mais facilidades, comodismo e tecnologia e menos, muito menos,
exercícios físicos. Essa é a proporção apontada em um estudo de coautoria da
American College of Sports Medicine e a marca Nike.
De acordo com a pesquisa – que levanta dados do Brasil, Estados Unidos,
Grã-Bretanha, China e Índia – o crescente sedentarismo pode levar à primeira
geração de jovens que viverão menos que seus pais. Até 2030, a previsão é de
que a expectativa de vida de pessoas não ativas fisicamente diminua em até
cinco anos.
A perspectiva para o País é de que, em 18 anos, os níveis de atividades
físicas reduzam pelo menos 34%, levando em consideração o começo da década
passada. Como prova da rapidez com a qual esses índices estão caindo no Brasil,
apenas de 2002 a 2007 a desaceleração foi 6%.
Nos Estados Unidos essa queda também é grande. De 1965 a 2009, a
pesquisa registrou diminuição de 32% entre as pessoas que tinham como hábito a
prática de exercícios físicos.
O jornalista Nilson de Paula Ribeiro Filho, 25, faz parte dos que aderiram
ao estilo de vida sedentário. Ele fica praticamente o dia todo em frente a um
computador, ferramenta de trabalho e conta que não pratica nenhuma
atividade física. Além disso, ele também assume que seus hábitos alimentares
não são saudáveis. “Praticamente não bebo água, apenas refrigerante”, conta.
Para
Ribeiro, a profissão é um dos motivos que o impede de frequentar uma academia
ou praticar alguma modalidade esportiva. “Tenho dois empregos e trabalho duro
durante a semana. Nos horários que tenho de folga prefiro descansar do que
realizar algum esforço físico”, afirma.
Consequências
De acordo
com o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo
(Sebem) de Goiás, Sérgio Vêncio, os dados são preocupantes. Ele afirma que no
Brasil, em decorrência desse estilo de vida menos ativo, doenças esperadas da
idade adulta estão cada vez mais incidentes em crianças e adolescentes.
“Doenças metabólicas e crônicas, como obesidade, diabetes e hipertensão estão
aparecendo muito mais cedo. Como ocorreu nos Estados Unidos a cerca de 30 anos,
as crianças começam a ficar doentes a partir dos cinco anos.”
O médico diz que, de forma geral, as meninas brasileiras entre nove e 13
anos de idade estão mais obesas que as norte-americanas. “Isso é assustador e
deve afetar a vida dessas pessoas em todos os sentidos, especialmente na vida
adulta, no âmbito social, psicológico e até profissional”, comenta o
endocrinologista.
Essas doenças, apontadas por Sérgio, estão no estudo entre as que mais
matam nos 50 países mais ricos do mundo, e estão relacionadas à falta de
atividades físicas. Outras consequências também podem entrar na lista dos
problemas do sedentarismo, segundo o cardiologista Júlio César Gondim. Ele cita
ainda a possibilidade de obstrução das artérias, sobrecarga no bombeamento de
sangue do coração para o corpo, que pode ocasionar o aumento de tamanho do
órgão; bem como arritmias e outras complicações.
“A falta de exercícios está ligada também ao descontrole de taxas como o
colesterol e a glicose, em especial se a pessoa em questão tiver propensão
genética a isso”, comenta o cardiologista Júlio César. Ainda como consequência
de uma vida sem muitos movimentos, o endocrinologista acrescenta que a maioria
das doenças metabólicas estão baseadas no ganho de peso, resultado também de
uma alimentação incorreta.
Comodismo
De acordo
com o conselheiro do Conselho Regional de Educação Física de Goiás e Tocantins
(Cref14), Wesley Rosa dos Santos, um dos grandes motivos das pessoas serem
menos adeptas a uma vida ativa são as facilidades do cotidiano. Ele explica que
a vida exigia muito mais esforço há cerca de 30 a 40 anos, quando existiam
menos recursos tecnológicos à disposição.
O endocrinologista Sérgio Vêncio também concorda com essa perspectiva.
Ele diz que tudo se trata de uma mudança cultural, resultado do atual estilo de
vida. “As pessoas trabalham muito e tem menos tempo para comer bem, se
movimentar e brincar com os filhos. Nesse pacote também entram as crianças, que
crescem dentro de casa, cercada por comidas rápidas e aparelhos tecnológicos.
Os filhos estão seguros em casa, mas expostos a um perigo muito maior, que é o
sedentarismo.”
Para o Wesley Santos, a chave da mudança para uma vida saudável e a
maior longevidade, está no resgate de pequenos hábitos. “Caminhar até a padaria
da esquina, preferir as escadas, levantar para trocar o canal da TV ou abrir os
vidros do carro manualmente são ótimos começos.”
O profissional também acredita que estimular as crianças desde cedo seja
uma fórmula eficiente de formar adultos que gostam de se exercitar. “A educação
física nas escolas tem essa função e descobre talentos. A criança que aprende a
gostar de exercícios serão adultos mais dispostos e saudáveis. Além disso, esse
estímulo ajuda na socialização e na formação da cidadania”, acrescenta o
conselheiro.
Recomendações
Segundo Wesley Santos, a prática de exercícios físicos não tem idade
para começar e muito menos para terminar. Ele diz que as crianças, ainda bebês,
podem ser estimuladas a nadar. Depois, mais velhos, o ideal é que pratique
modalidades variadas, para desenvolver bem a coordenação motora.
Para os adultos, no entanto, o profissional recomenda alguns cuidados
antes de sair do sedentarismo. Ele explica que antes de tudo é preciso fazer um
check-up completo, para não exceder a capacidade do corpo em relação aos
esforços propostos pela atividade. “É importante também respeitar o período de
adaptação do organismo a esse novo hábito, pelo menos por seis semanas. As
pessoas precisam começar devagar, com ponderação, para evitar lesões e até um
infarto.”
De acordo com Wesley, o ideal é começar caminhando de três a quatro
vezes por semana, durante 40 minutos; e fazer isso por todo um mês. Depois, a
ideia é aumentar progressivamente, passando para 50 minutos e uma hora de
exercícios diários. Só após o terceiro mês, quando o corpo estiver devidamente
adaptado, a pessoa deve intercalar algo entre oito minutos de caminhada e três
de trote, dando início lento à corrida. “Nunca se deve esquecer do alongamento
antes e depois da prática de execícios”, ressalta.
“O importante é resolver mudar de vida”, aconselha o profissional de
Educação Física. Foi essa decisão que a estudante Victória Oliveira, de 19
anos, tomou no começo da semana. Ela começou a dieta, voltou a fazer caminhadas
e cortou o consumo de álcool. “Sei que é necessário para viver mais e melhor.
Quero perder peso e evitar doenças futuras”, explica a estudante, que caminhava
no Parque Areião, na região sul de Goiânia.
Também por qualidade de vida, a representante comercial Sônia Hosokawa,
40 anos, fez da caminhada um hábito há mais de cinco anos. Ela explica que
pretende fugir da carga genética da família, que trás históricos de obesidade,
diabetes, hipertensão e problemas cardíacos. Devido à vida corrida, Sônia diz
que se esforça para manter a frequência de exercícios pelo menos três ou quatro
vezes por semana. (colaborou Cecília Preda).
Fonte: Diário
da Manhã Goiânia/GO 09.11.2012
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